PARALISIA OU CONGELAMENTO EM MOMENTOS DE PÂNICO. COMO REAGIR NESSES CASOS.

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Paralisia ou congelamento em momentos de pânico ou estresse elevado, nesse artigo faremos uma entrevista com o psicólogo Dr. Alexandre Cardozo, a respeito dessa condição que aflige muitos atletas.

Provavelmente todo atleta já passou por isso em algum momento de sua vida.

Quais os sintomas, como tratar e reagir nesse momento tão complicado e difícil. Aproveitem 🙂

1 – O que causa essa paralisia em uma situação de pânico ou perigo?

Existe um nome específico para essa condição.

Essa paralisia é uma resposta natural do sistema nervoso autônomo (SNA), é conhecida por resposta de luta ou fuga – é a sua reação a um estímulo percebido como uma ameaça iminente à sua sobrevivência, ela pode ser real ou imaginária, sendo inerente a todos os seres humanos e outros mamíferos.

Essa reação é útil na preservação da sua vida, mas se tal paralisia ocorre com frequência, então ela pode ser sintoma transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) e merece atenção.

2 – Quais os sintomas?

Há duas situações que precisam ser esclarecidas: imagine que durante uma competição você tivesse um oponente considerado erroneamente fraco ou inexperiente, mas de repente esse mesmo acertasse vários golpes sem que esperasse, pego de surpresa a reação natural do corpo seria bombear mais sangue para as extremidades para que você tivesse mais velocidade tendo a chance de escapar daquilo ou “caindo para cima” dele, suas pupilas também estariam dilatadas como resultado do aceleramento dos batimentos cardíacos, mas depois de poucos segundos você se recuperaria e iria à luta para virar a situação à seu favor, isso é uma reação saudável.

Se, por outro lado, no meio de uma luta ou competição, o atleta se sentir “paralisado”, com reflexos lentos, tontura, vertigem, ansiedade, perda de conexão com o próprio corpo ou mesmo pânico, e não conseguir dominar essas sensações esses são sintomas do congelamento ou freeze (em inglês) provocado pelo estresse do evento.

Essa situação que pode ser momentânea, mas se torna, por assim dizer, um transtorno psicológico se começar a ocorrer repetidas vezes. Isso ocorre quando não é possível se desligar do evento desagradável, se seu desempenho cair, se uma onda de ansiedade um medo irracional vier sempre antes de treinos e competições ou se você cria desculpas para fugir de situações que lhe causam desconforto.

3 – O que fazer quando a pessoa está passando por essa situação e começa a perder o controle?

Basicamente o primeiro passo é retirar a pessoa do local de treino ou competição, que pode ser do tatame ou de uma quadra etc. O barulho e a movimentação de pessoas no local só faz aumentar o nervosismo e o senso de fuga.

Deve-se portanto, levar a pessoa a um local mais calmo e reservado. Uma pessoa da equipe, que pode ser o professor ou um amigo, pode auxiliar o atleta a se acalmar pedindo a ele para que respire com calma, devagar sentindo o ar entrar e sair dos pulmões, para que ele lentamente volte a sentir em si mesmo.

Pedir para que a pessoa beba um copo de água, apesar de parecer um “clichê”, tira a pessoa do foco do que ela está sentindo, além disso, faz com que a respiração diminua para ela possa beber e também ajuda a acalmá-la.

Quando a pessoa estiver mais focada nela mesma e com a respiração normalizada para que possa falar, podemos ir mais adiante nesse processo; peça ao atleta para dizer o que está sentindo e para descrever o que está acontecendo, isso faz com que ele se centre em si mesmo, fazendo com que saia da situação de perda de controle. Lembre-se: externalizar ajuda a sair da identificação com os sentimentos de pânico.
É claro que esses procedimentos são emergenciais. Quando o atleta estiver mais calmo e no controle de si mesmo, é necessário procurar o auxílio de um psicólogo para que possa se buscar a razão do freeze.

Muitas vezes a origem de tal comportamento não está ligado ao evento vivenciado, mas é na verdade resultado de uma causa anterior, ligada à mente da pessoa.

4 – Existe algo que se possa fazer para melhorar essa condição?

Sim, existe. Um psicólogo pode fazer a diferença para evitar anos de ataques de pânico, com a perda da competitividade do atleta, além de problemas pessoais. Um tratamento que pode ser adotado é, num primeiro momento a psicoterapia breve, que foca somente na problemática do paciente, acompanhada pela abordagem da terapia cognitivo-comportamental.

Com essa terapia as pessoas são instruídas a:

● Não evitarem as situações que provocam ataques de pânico;
● Reconhecerem quando seus medos não têm justificativa;
● Responderem ao ataque com respiração controlada lenta ou outras técnicas que promovem relaxamento.

Essa psicoterapia de apoio, que inclui instrução e aconselhamento, é benéfica, pois o terapeuta pode fornecer informações gerais sobre o transtorno vivenciado, as formas de tratamento e as chances reais de melhora, além de estabelecer um vínculo de confiança com o profissional da saúde.

O número de sessões numa psicoterapia breve é variável, pois vai depender de cada caso. Em média, é recomendado uma sessão por semana, durante um período de seis meses, totalizando 20 sessões, podendo ser estendida de acordo com a necessidade do paciente.

5 – No caso de treinamento de competição colocar o praticante para passar por situações mais reais e estressantes ajuda a melhorar seu autocontrole?

Sim com certeza, essa pergunta é muito apropriada, no meu caso eu utilizo a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC). A TCC busca entender a forma como o ser humano interpreta os acontecimentos e como aquilo que o afeta, e não os acontecimentos em si. Ou seja: é a forma como cada pessoa vê, sente e pensa com relação à uma situação que causa desconforto, dor, incômodo, tristeza ou qualquer outra sensação negativa.

Estes mesmos preceitos podem ser utilizados não só dentro de um consultório, como também na prática de artes marciais, por exemplo, quando pensamos em pânico ou medo, podemos também perceber que eles são causados por sentimento de impotência, fracasso, falta de confiança em si mesmo, que são distorções da realidade produzidas por pensamentos limitantes e negativos, esses causam comportamentos ou ações também negativas resultando num desempenho limitado e pouco produtivo. Colocar os praticantes diante de situações reais faz com que eles se sintam mais preparados, a ponto de tornarem seus golpes e movimentos automáticos, a mente não ficará totalmente fixada em como fazer, mas no que fazer e quando; pessoas que treinam mais se tornam mais confiantes.

Portanto, quanto mais centrada a pessoa estiver, maior será o autocontrole não só do corpo e dos seus movimentos, mas também dos seus pensamentos e sentimentos. Isso resulta no maior controle na mental e maior calma, desse modo a praticante estará menos suscetível a interpretar os eventos externos de forma distorcida, o que é vital tanto no treinamento de artes marciais como na defesa pessoal.

6 – Tem algo a mais que gostaria de acrescentar?

Gostaria de lembrar que o seu desempenho dentro e fora do tatame, numa competição ou na vida pessoal, é resultado de como você lida com os fatos, e como você reage a eles. Contudo a forma que cada um de nós lida com o que é vivenciado é o que faz a diferença.
Em casos mais sérios e constantes de pânico e fobia é sempre importante o auxílio de um profissional da saúde mental



Alexandre Cardozo Alves (CRP/SP - 06 /145386), é graduado em Psicologia Clínica pela Faculdade Anhanguera e professor de inglês, utiliza a Terapia Cognitivo Comportamental não só com pacientes mas também em sala de aula com alunos que apresentam ansiedade e medo de falar.
Contato: (11) 9 8176-3446
e-mail: alexpsicologotcc@hotmail.com
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